Quando eu tinha 6 anos, levei um soco na minha primeira briga de colégio. Logo em seguida, dei uma rasteira na menina e devolvi o soco com outro de presente. Levei uma bela bronca da professora, e, ainda, ganhei o tão temido comunicado. Como eu vivia apanhando na escola, achei que ia levar uma bela bronca em casa, mas isso não aconteceu: minha mãe colocou um gelo no meu olho, e pediu para eu sentar na mesa da cozinha e contar o que aconteceu, enquanto ela fazia minha janta. Quando ela ouviu tudo, me colocou no colo, me deu um beijo e disse: "Estou muito orgulhosa porque você não é uma mulherzinha. Foi assim que eu criei você!"
Na hora achei muito legal, mas também achei que minha mãe estava maluca.
Mais tarde, quando eu tinha 11 anos, parei de falar com todas as meninas da minha sala porque achava que elas eram muito falsas. Ora essa, se uma falava mal da outra para mim, o que me garantia que ela não falava mal de mim para a outra? Muito digno, né? Mas na prática não foi tão legal assim. Eu acabava sozinha em tudo: nos trabalhos, no recreio, não ia nas tão desejadas festinhas de aniversário... Enfim, era uma porcaria. Nem queria mais ir ao colégio! Um belo dia, pedi pra minha mãe para faltar aula, porque era dia de Educação Física e uma menina isolada sempre era a última a ser escolhida e, ainda, levava várias boladas de propósito. Então, mais uma vez, ela me colocou no colo e disse: "Existem dois tipos de mulher: as mulheres e as mulherzinhas. Cabe a você escolher qual quer ser. Mas vai ser muito frustrante, como mãe, criar uma mulherzinha. Se você não fala com essas meninas é porque tem personalidade, não é que nem todas as outras e não é uma mulherzinha. Foi assim que eu te criei e um dia você vai me agradecer por isso!"
Pois é, hoje, com 22 anos, eu agradeço. E muito! Todas as vezes que me deparo com uma mulherzinha, sinto uma gratidão imensa por não ser assim. Só que, por ter escolhido ser uma "mulher", várias pessoas sem personalidade já saíram do meu caminho. Umas naturalmente, outras na briga. Claro que eu sempre ficava triste quando elas iam, mas quando a poeira abaixava, percebia que eu estava no lucro quando elas se afastavam.
Recentemente, passei por uma situação muito chata: tinha uma amiga muito querida, que não quis acreditar em mim, e não me deu espaço para defesa. Ela preferiu jogar nossa amizade no lixo e me trair, pois, mesmo diante de todas as evidências, pra ela era muito mais cômodo acreditar no namorado. Na hora eu fiquei muito irritada, afinal minha mãe também não me criou para ser mentirosa. Bati boca, agredi, quis conversar... e ela não me deu nem espaço. Hoje, só o que eu consigo sentir por ela é pena. Muita pena. Pena da falta de personalidade, pena do medo de mudar, pena do medo de assumir que escolheu errado e pena de tanto amor depositado na pessoa errada. Se ela queria ficar com ele, mesmo sabendo das mentiras, era uma opção dela. Mas ela não podia tomar as mentiras como verdade absoluta e me tratar como uma mentirosa repulsiva. Isso não se faz, isso denigre e magoa.
Às vezes, vejo um monte de pessoas que vivem assim, na mentira. Pra elas, as mentiras parecem ser mais confortáveis. Nunca entendi isso. Parece que não têm sangue correndo nas veias! Prefiro ter um inimigo a um falso amigo. Não preciso de esmola de carinho. Acho isso patético. Algumas pessoas são tão carentes, que precisam de falsidade para sentir que fazem parte de alguma coisa e que são amadas. Tenho asco dessas coisas. Nunca suportei mentira, prefiro me machucar com a pior verdade.
Mas o que eu posso fazer, né? Afinal de contas, o pior cego é aquele que não quer ver.
Agradeço muito à minha mãe por me ensinar a tomar minhas decisões, a sempre seguir minha convicção, meus princípios e meu caráter.
"A personalidade está para o homem, como o perfume está para a flor."
Charles Schwab
notícias
Há 2 meses
