segunda-feira, 13 de março de 2023

Ventando Por Aí...

Segunda, 13 de março de 2023 - Rio de Janeiro 

Hoje começo aqui um breve diário.

Não sei ao certo se vou me comprometer a fazer isso de forma literal e realmente diária. Mas sinto muita falta de escrever e expressar meus sentimentos dessa forma. 

Hoje estou vivendo um dos momentos mais bonitos (e complexos) da minha vida; o desenvolver da minha espiritualidade e da minha mediunidade não vem sendo a tarefa mais simples do mundo: são vários sentimentos juntos, misturados com um excesso de emoções que às vezes eu custo a conseguir decifrar, pois elas chegam sem avisar, sem contexto, quase sem educação. Arrombam a porta e vão chegando e eu que lute depois para lidar com a baguça que fica. 

Mas o grande lance é que essa arrumação acaba me ensinando muita coisa. De uns tempos pra cá, tenho aprendido muito na minha solitude, estar sozinha tem me mostrado coisas que nunca nem de longe parei para pensar. E é engraçado que antes eu precisava conversar com alguém para entender algumas coisas que passavam na minha cabeça; e hoje ainda preciso e faço isso. Mas venho conversando cada dia mais com as vozes da minha cabeça, com os meus guias. E eu sei que pode parecer coisa de maluco, mas realmente são conversas muito construtivas que andam me ensinando muito. E eles são muito sábios, chego em conclusões que tenho certeza que não saíram da minha mufa, tamanha a evolução e o desprendimento de alguns melindres que a "vida real" nos obriga a ter. E olha que ainda nem estamos com a conexão alinhada e firmada no 100%, sabe? Porque a minha cabeça e a falta de confiança em mim ainda me atrapalham demais, nossa, mas atrapalham muito. Tem hora que eu mesma duvido da minha mediunidade, se eu não tivesse testado pra ver se sou esquizofrênica, tenho certeza que estaria achando isso agora! 

No momento, ando tentando aprender a me amar mais, já que vim percebendo que pra mim é muito mais fácil amar os outros, que me amar. Mas também, como eu vou conseguir me amar se nunca recebi amor de verdade? Aquele amor do "te bato porque eu te amo" não é real. O amor é o que o amor faz e, definitivamente, o amor não bate, não humilha, não xinga, não abandona, não violenta... O amor é outra coisa. Também fica difícil acreditar que sou merecedora de amor, quando cresci ouvindo que eu não era boa o bastante, que eu era um monstro, que eu não era digna... Enfim, as pessoas fazem com as crianças coisas absurdas, que se fossem com adultos seriam crimes contra a humanidade e o escambau, mas com crianças é válido, é plausível. Não faz sentido, mas falta de amor é pra não fazer sentido, mesmo. E nessa equação aí, também não estou me vitimizando, apenas entendendo a origem da minha falta de amor próprio. Meus pais também não tiveram amor de verdade para eles e, por isso, não o tiveram para me passar. A real é que a gente não aprende o que é o amor, a gente tem é que ir descobrindo ao longo da vida, mesmo. E algumas pessoas tem uns atalhos no caminho, já outras não dão tanta sorte. Eu dei uns azares, mas já tô aqui no caminho certo para aprender e, quem sabe, não consigo ensinar para os meus pais e, se tudo der certo e eu receber essa benção, meus filhos (no plural, ou no singular, só quero ser mãe, mesmo rs)?

Por conta da minha falta de acesso ao amor genuíno, aceito qualquer esmolinha de afeto, qualquer beijinho caloroso já tá me acolhendo um pouco, porque cada dia sinto mais falta de encontrar algum tipo de amor em alguma esquina. E não me refiro apenas a relacionamentos afetivos, mas sim a amor de forma genuína, amor puro e simples. A gente conta nos dedos os momentos honestos de trocas amorosas que temos no nosso dia-a-dia e acaba que, devagarinho, parece que nossa alma vai adoecendo. 

Se tocar disso faz com que a gente fique mais exigente na busca pelo amor, numa palavra torta, a gente já pensa "opa, isso não é amor. É um afeto de leve, no máximo. Mas isso pode me machucar se eu ficar por aqui". E isso é péssimo, porque antes as relações mais vazias e ocas que preenchiam meus vazios e minhas necessidades químicas, fisiológicas e de afeto, não me satisfazem mais. Pelo contrário, antes eu separava muito bem as coisas, hoje, além de não preencherem, ainda me deixam mais vazia depois. E esse vazio faz com que eu me sinta cada vez mais desconectada com esse tal amor próprio que eu ando tentando encontrar. 

E falando em procurar o amor, estou completamente apaixonada, mas com os quatro pneus arriados de verdade. E já saquei, inclusive que o que eu sinto é bem mais que paixão, porque vai além da coisa da química; a admiração já existe, já vi posturas e valores que encaixam com os meus, existe um carisma, um "axé", uma energia na pessoa que, apesar da casca, é linda demais de se ver. E apesar de ver tudo isso e dizer serena que o que eu juntei de informações já dá para considerar que é amor, nesse modelo de amores e relações líquidas, não me aprofundei o suficiente na intimidade com a pessoa para minimamente conferir se todas essas ilusões que a gente cria na paixão são factíveis com a realidade. Eu tenho um "olho" bom para escanear energias e vejo coisas realmente lindas por dentro dessa casca de espinhos, mas enquanto não vejo tudo isso que meu "olho vê" concretizado, pode ser só uma ilusão de olho apaixonado. E olho apaixonado é foda! Ou seja, será que é amor? E mais que isso, será que a pessoa minimamente se interessa por mim? Porque tem isso também, né? Hoje em dia a gente não sabe mais ao certo se as pessoas gostam, ou não, da gente, já que uns infelizes começaram a vender por aí que é, sei lá, conceitual ser blasè pro amor; é bacana demonstrar desinteresse, ninguém mais pode fazer um cafuné sem ser julgado de emocionado. Olha, é cansativo se relacionar em 2023! 

E aí fica aquela coisa: ele gosta de mim e não demonstra; ou ele não gosta e tá agindo normalmente, como alguém que não tem interesse, mesmo? Viver com essa agonia dá umas sensações de abandono diárias, que mesmo que você não queira, sempre existirão enquanto você não senta a raba e conversa com o objeto de adoração, vulgo o ser humano que você tá apaixonada. E, venhamos e convenhamos, estar nesse estado de paixão é uma delícia e é uma merda!

Agora entra o dilema que todo amor líquido em algum momento precisa passar: e aí? Vai conversar e abrir o jogo, ou vai pular fora sem dizer tchau? Vai pagar de emocionada e possivelmente se humilhar se declarando (porque declarações de afeto são consideradas verdadeiras humilhações públicas, enquanto decretar que odeia alguém é socialmente aceitável de boa), ou vai embora sem saber minimanete o que a pessoa sente? E, olha, se eu pudesse escolher, eu nem toparia estar sentindo isso. Já demoro tanto pra me apaixonar, que realmente fui pega distraída. Sabe quando você acha que a pessoa é uma coisa, aí fica tranquila achando que não corre riscos, e quando vê o gato é incrível, interessante, apaixonante e tem um tempero bom de energia de amor (mesmo com uma casca que parece que vem de machucados na alma)? E o pior: até a casca eu entendo, porque já a usei muito no passado, era com ela que eu me fazia de durona paras pessoas me machucarem um pouco menos; até porque não permitia que elas se aproximassem, que nem um porco-espinho. Enfim, mas foi aí que o moço bonito chegou e bagunçou todo o meu esquema. Justo agora que estou em um momento tão complexo que é o desenvolver da minha mediunidade e que tem um fervilhão de sentimentos aqui dentro. São tantas emoções, na boa, que péssimo timing... 

Eu realmente ando achando que nesse dilema, vou acabar saindo à francesa, até porque, não posso correr o risco de me envolver e, por conta das minhas prioridades no momento, acabar machucando alguém, sem querer. Porque sei que não vou poder me doar como um novo relacionamento geralmente exige. Mas, olha, é com tristeza que vou fazer isso. E é aquilo, também, essa é a minha cabeça de hoje, como eu bem sei, amanhã bate um vento e resolvo falar, ou (quem sabe?) a paixão passa... sei lá, minha cabeça venta demais, vamos vendo até onde esses ventos me levam. 

Venta, ventania! 

E por último, e não menos importante: hoje faz 6 meses que estou limpa de remédios psiquiátricos. Estou me sentindo tão bem em estar comigo mesma, sem um bando de remédios interferindo no meu humor e no meu estado de espírito. É bom demais não estar em transe ou dopada, avaliar as coisas com a minha cabeça e o meu coração. Em um outro momento, posso discorrer mais sobre isso, mas hoje é só gratidão!

Bom demais estar limpa, grata demais por isso! <3